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Notas da vida


Entrou em período de reflexão, na sua cabeça é mas é Outono, não quer saber deste calor parvo, já faz sopas para comer ao jantar e já tem a abóbora pronta para a compota, mais os paus de canela. Desejosa que a cozinha cheire a frio lá fora, antevê felizes domingos de inverno a bater claras em castelo, juntando azeite e mel. Bolos. Para o chá de lúcia-lima que apanhou verdinho e já tem a secar há uns meses, não vá a provisão acabar-se. No resto a reflexão também já se lhe nota bem, fala menos para fora e mais para dentro, anda pensativa e apetece-lhe música de violinos e lume. A lista de livros para comprar não acaba e a vontade de escrever começa a sobrar-lhe para os sonhos, que se povoam de gente-mistério que só pode ter aparecido para ir para as histórias, de outra forma o que fazer à Gabriela do jacarandá mais aos primos da cidade, ao Joca tão fraquinho de carnes e de sentido, e à tia Jú, elegante e fria como uma espiã de moscovo e que só borda pássaros feios?

Entrou em reflexão, na sua cabeça já é o tempo da terra molhada e das manhãs de nuvens grandes, das tardes de escrita e das noites de ler. Não quer saber de falar muito, só quer saber de amar ainda mais. E de ficar em paz. No seu mundo.


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