O silêncio ensurdecedor de um lugar vazio
Preciso de silêncio. Sem silêncio estou perdida. O silêncio da calma do início e do fim dos dias também, mas é o silêncio que vem de dentro que me faz mais falta. E este é um silêncio próprio, vivido interior e individualmente, à maneira de cada um. Há poucos dias estive num lugar super povoado, um milhão de pessoas à minha volta, mas foi onde estive mais comigo nos últimos tempos, onde mais me ouvi, onde mais cresci na procura da minha paz , uma demanda a que regressei fervorosamente depois de algum tempo absorta no barulho do mundo. Também gosto do barulho do mundo, claro, como gosto! Do riso alto dos amigos, da voz doce das minhas filhas, do pulsar de uma cidade e do colorido dos gritos de um mercado em qualquer lugar do planeta. Mas também preciso do seu oposto total, do silêncio ensurdecedor de um lugar vazio, do nada à minha volta, da sensação e da emoção que só o escutar nos, de dentro, traz. Esta novidade total para mim, escutar-me de dentro, que eu nem sabia que existia mas que me enche de uma felicidade imensa, tem pouco tempo, uns dois anos, e surgiu com a prática da meditação, mas muitos encontram na noutras práticas, como na oração, na simples contemplação de uma bonita paisagem ou até no cheiro do mar, as formas são mil e uma, tantas quantas pessoas existem pois é um processo absolutamente individual e único.
Eu preciso de silêncio, sem ele estou perdida. E ainda que o bulício me motive e me fascine, é no vazio dos dias que me (re)encontro. Cada vez mais.