Que assim seja
Que os dias sejam sempre uma soma que nos acrescenta e nunca uma conta bicuda feita de cabeça cheia.
Que as rosas sejam chá e os cravos sangue, as ruas melancolia e os abraços nossos.
Que a canção que se ouve diga sempre "et si tu n'existais pas/dis-moi pourquoi j'existerais" e o poeta nunca morra porque precisamos dele como pão para a boca e água de verão para o corpo.
Que não nos falte o compasso do tempo passado nos brindes e a cadência da conversa feita de segredos à lareira.
Que ir num avião para longe seja sempre um momento de alegria imensa e o regresso a casa um reencontro com o que mais somos.
Que os chocolates sejam sempre doces e façam borbulhas no dia seguinte, porque isso quer dizer que há amanhã.
Que os saltos agulha estejam sempre presentes para se descalçarem ao som de um tango e que o cabelo seja sempre brilhante e com cheiro de amêndoas para encostar a um nariz que o mereça.
Que as cidades sejam caóticas e coloridas, que nelas batam milhões de corações e se elevem tantos sorrisos quantos desejos haja por cumprir.
Que nunca deixemos de rir alto arrasando tristezas e derrotando maldades, que em cada um de nós renasça, em cada dia, um amor imenso.
Que o anoitecer em paris nos apanhe muitas mais vezes perdidos na visão imensa do Trocadero ou num teatro de marionetas no Jardin du Luxembourg.
Que celebremos gritando ao vento, todos os dias, que estamos vivos e somos gente feliz.
Que morramos num dia bonito e que alguém nos chore e nos leve flores, porque saudade só se sente de quem se ama e flores são poemas maiores.