Um continho de Natal
Eram grandes e bonitas como são as coisas que se querem muito ou tanto. Demorou uma vida até as ter para si e quando finalmente as teve foi um dia dos felizes. Com ares de importante, entrou na loja para levar na mala um sonho e no coração um tesouro, que ele há coisas assim bonitas que alegram a gente. Depois foi a espera pela ocasião certa, que parecia não chegar. Impacientou-se por uma beleza assim viver escondida e por fim decidiu-se, era Natal, a sua época favorita desde criança quando espreitava as luzes da igreja, via passar os homens corados para a missa e ganhava um pedaço extra de pão e um sininho de chocolate. Sim, naquele dia iam sair à rua juntas. Preparou-se e pomposamente saiu de nariz levantado para passear na avenida iluminada de estrelas douradas, tal e qual como as senhoras finas. Todos viravam os olhos à sua passagem e sentiu-se poderosa, mas o passeio não durou muito, a alegria foi tão fugaz que a fez pensar que há gente como ela que não tem direito de sentir a vida. Ainda não tinha caminhado quase nada quando alguém veio cobrir o seu corpo nu e chamaram quem a levasse. Mesmo assim, serena, Eva acariciava o pescoço e falava para as suas pérolas, grandes, bonitas e brilhantes, que só ela via. Ainda pediu um sininho de chocolate mas ninguém a ouviu. Má sorte ter sido assim, apetecia-lhe tanto um docinho.
marta, escritos soltos